Escrever um texto coeso, que transmita a mensagem desejada de maneira clara e compreensível exige do autor atenção. Para que o seu discurso tenha sentido completo e unidade, existem mecanismos linguísticos que garantem harmonia e sequenciamento lógico às partes de um texto — ou seja, que deixam um texto coeso.
Para ajudar você a aprimorar esse aspecto da escrita, no artigo de hoje vamos tratar sobre as características de um texto coeso. Antes, porém, você saberia explicar o que é coesão textual? Entenda o conceito a seguir!
O que é coesão textual?
A coesão textual refere-se às relações de sentido existentes em um texto, cujos elementos são dependentes entre si. Em outras palavras, não poderíamos entender uma parte do texto se não recorrermos a uma outra devido à ligação harmônica existente entre elas.
As relações de sentido estabelecidas pela coesão dizem respeito aos mecanismos usados no discurso que ligam sentenças ou palavras às demais por meio de elos ou laços coesivos. Desse modo, constrói-se o tecido do texto.
Importante pontuar que a coesão está agrupada junto a outros seis fatores responsáveis por não fazer de um texto apenas uma sequência de frases isoladas. Reunidos, esses elementos fazem com que o texto tenha fluência, seja inteligível, e consiga transmitir um significado. Esse conjunto de fatores chamamos de textualidade.
A textualidade
A textualidade engloba aspectos que permitem que um texto seja, de fato, um texto — uma unidade de linguagem dotada de sentido, um todo significativo — e não um monte de palavras e frases somadas. A coesão é um dos elementos que ajudam a compor a tessitura de um discurso para dar a ele uma unidade semântica e formal.
Os fatores responsáveis pela textualidade
Além da coesão, mais seis fatores são responsáveis pela textualidade na estruturação textual:
- coerência: responsável pelo sentido do texto, trataremos dela mais adiante;
- intencionalidade: diz respeito à intenção do autor — informar, convencer, alarmar etc.;
- aceitabilidade: trata da expectativa do receptor em relação ao que vai ler;
- situacionalidade: relativo ao lugar de onde o texto é produzido e a direção tomada por ele;
- informatividade: refere-se à previsibilidade do discurso;
- intertextualidade: envolve outros textos e contextos.
Vimos, até esse ponto, o conceito de coesão e os demais elementos que, com ela, colaboram para a composição de um texto. Passemos, então, a analisar com mais detalhes as características de um texto coeso.
O que é, portanto, um texto coeso?
Quando um texto é coeso quer dizer que ele tem sentido completo, ou seja, uma unidade formal e semântica. Essa unidade é construída por mecanismos gramaticais — artigos, conjunções, pronomes etc. — que se conectam com outras partes, estabelecendo, assim, uma sequência lógica.
Um segundo mecanismo responsável pela unidade textual é o de coesão lexical. Ele ocorre por meio da reiteração, substituição ou associação, itens que trataremos ainda neste tópico.
E o que normalmente causa dificuldade aos leitores na hora de interpretar a mensagem do autor? Períodos longos! Estender-se em uma frase é se perder nas ideias que se pretende transmitir no texto. Por consequência, a coesão fica prejudicada nessa confusão.
Logo, para ser claro, direto e conciso, prefira frases curtas. Se houver necessidade de uma oração mais extensa, os conectivos cumprirão bem o papel de mantê-la inteligível e coesa, além de evitar repetições de palavras.
Antes de concluir um trabalho, faça uma revisão de texto para checar se há períodos longos e/ou se os elos de coesão estão corretamente empregados.
Vamos a dois exemplos para notar, na prática, a diferença do que explicamos no parágrafo anterior. Veja a frase abaixo:
Paulo foi, nesta manhã, à padaria comprar pão e leite, mas percebeu que na padaria não havia os produtos que queria e então foi a uma outra, no Centro, comprar o pão, leite, presunto e queijo.
Cansou-se de lê-la? Sem pontuação e conjunções — os conectores —, a leitura fica comprometida. Agora, leia o mesmo exemplo, escrito de forma objetiva e coesa:
Paulo foi, nesta manhã, à padaria comprar pão e leite. Lá, percebeu que não havia os produtos que queria e, então, foi a uma outra, no Centro, para comprá-los. Ele ainda trouxe mais dois itens: presunto e queijo.
Observe que houve referências a termos antecedentes: “lá” referiu-se à “padaria”, bem como “outra”. No fim, “los” remeteu a “produtos”, e “Ele”, a Paulo — referências a termos já citados são conhecidas como anáfora.
Caso contrário, quando remete-se a elementos na sequência — como em “mais dois itens” em relação a “presunto e queijo”—, essa ligação é denominada catáfora.
Os conectores unem-se a mais quatro elementos de ligação linguística, chamados de mecanismos de coesão:
1. Referência
Os elementos de referência são itens que precisam ser interpretados semanticamente pela ligação deles a outros existentes dentro do texto ou fora dele:
- Carla e Maria são ótimas profissionais. Elas acabaram de ser promovidas.
- Você está zangado porque queria ir a outro lugar?
No primeiro exemplo, notamos a ocorrência de uma anáfora, ou seja, uma referência a um elemento anterior. No segundo, o termo “outro lugar” refere-se a um elemento ausente no texto.
2. Substituição
Baseia-se no emprego de um item no lugar de outro elemento do texto, seja palavra ou até mesmo uma oração completa, de modo que se evite a repetição do termo:
- Meu irmão comprou um computador moderno e barato. Eu também quero um.
3. Elipse
É como a substituição, mas um item lexical — palavra, oração, enunciado — é omitido, mas fácil de ser notado pelo contexto:
- Sua mãe vai ao casamento? Vai. (Ela vai ao casamento)
4. Conjunção
A conjunção ou conexão constrói relações de significado entre elementos ou orações do texto por meio de conectores:
- Os alunos se acalmaram logo após a entrega das notas.
5. Coesão lexical
Ela é formada por dois mecanismos: reiteração e colocação. O primeiro reitera, por repetição, um mesmo item lexical, e o segundo mecanismo emprega termos de um mesmo campo de significados:
- O ônibus chegou atrasado, mas o motorista do veículo não deu explicações. (reiteração)
- Luíza tomou analgésicos e passou pomada nos ferimentos. (colocação)
Coesão e coerência textuais: qual a diferença?
É comum que os livros, ao tratarem da coesão, citem também a importância da coerência textual. Não é para menos: os dois assuntos confundem a cabeça dos estudantes da língua portuguesa.
Vamos, portanto, à explicação: a coerência diz respeito à relação lógica das ideias dispostas no texto. Nessa relação, não devem existir contradições, e sim complementaridade, que dá sentido completo à mensagem.
A coesão, como explicamos, trata-se da conexão entre as partes do texto. Por meio dos elos de coesão, que ligam frases e palavras, forma-se um sequenciamento lógico e compreensível.
Importante ressaltar que um texto pode ser coeso, mas não coerente. Veja:
- Não gosto de ir à praia porque ela fica distante do litoral.
Incoerente a frase, não? No entanto, há coesão: entendemos que, de acordo com o exemplo, a praia fica distante do litoral porque o pronome “ela” refere-se ao termo “praia”. Observe que o contrário também é válido — leia, agora, um trecho coerente, mas sem elementos de coesão:
- Viajei no inverno. Aproveitei a serra. Fazia bastante frio. Acendi a lareira.
Qual a importância da coerência?
Você já entendeu o que é a coerência textual: o encadeamento lógico das frases e orações, articulando as ideias e formando um texto inteligível e claro. Mas afinal de contas, qual a importância da coerência textual?
Se incoerente, o texto não consegue passar suas ideias de forma satisfatória, e o leitor sairá prejudicado, confuso ou até mal-informado. Lembre-se de que uma das atribuições do texto é a de comunicar um fato, um acontecimento ou um dado, por exemplo. É daí que vem a importância de construir um texto coerente, além de coeso.
A coerência textual obedece alguns princípios básicos. Em primeiro lugar, o da não-contradição, que prega a harmonia entre os argumentos apontados. Ou seja, você não pode afirmar algo em um parágrafo e desmenti-lo, logo em seguida: o texto fica incoerente, e o leitor tem a sensação de ser confundido pelo autor.
Há também o princípio da tautologia, que se refere à repetição de palavras ou de ideias idênticas, em termos diferentes. O efeito que isso produz é um texto circular, que não sai do lugar e não consegue informar com profundidade.
E além, há o princípio da relevância, que estabelece o seguinte: todos os fragmentos do texto devem estar coordenados e relacionados. Isso porque, mesmo que aborde um aspecto importante, se algum trecho ficar “solto”, sem relacionar-se com os demais, o texto perde em coerência, pois afeta a continuidade lógica dos temas.
Outro erro comum provocado pela falta de coerência na escrita é não encadear as ideias. A sensação, para o leitor, é de que você está mudando de assunto repentinamente, sem explicações.
Escrever com coerência e coesão é um desafio. A experiência aperfeiçoa a técnica, portanto, a dica é: escreva muito. Com o tempo, as suas habilidades ficarão mais afiadas, e seus textos melhorarão muito em qualidade geral. Mas como fazer isso? Acompanhe a seguir algumas dicas:
Quais as dicas para escrever um texto coeso e coerente?
Domine o assunto
Quanto mais você souber sobre o que está escrevendo, mais fácil será o seu processo de criação textual. As ideias virão de modo natural, e bastará segui-las para conseguir relacionar um período no outro, e todos entre si.
Pode ser antes de escrever ou ao longo do processo de criação do texto. A pesquisa, profunda e bem embasada, faz toda a diferença na elaboração de um trabalho coeso e coerente.
Rascunhe ideias
Antes de escrever, rascunhe as ideias principais que você quer transmitir no texto. Organizadas em um esquema visual, elas ficarão mais claras e aparecerão naturalmente enquanto você redige o texto. Lembre que uma ideia deve se conectar a outra, harmonicamente.
Revise o texto
Uma leitura calma pode detectar incoerências. Dessa forma, eliminá-las será mais fácil. Portanto, não descarte uma revisão detalhada, com atenção e diligência, para localizar as fraquezas do texto.
Evite frases longas
Dê preferência a frases curtas, na ordem direta. É claro que, para evitar um texto monótono, você deve intercalá-las com períodos mais longos. Mas procure formulá-las com brevidade. Assim, você evita o risco de se perder nas próprias ideias e produzir um texto incoerente e sem coesão.
E, caso acredite que tenha segurança suficiente para desenvolver o assunto em uma frase mais longa, cuide com os conectivos e a hierarquia do texto.
Quais são os tipos de coerência textual?
Coerência sintática
A forma com que os elementos textuais se relacionam na estrutura linguística é a coerência sintática. Diz respeito ao emprego correto dos grupos de palavras, evitando ambiguidades ou confusões por meio da expressão de ideias com o uso dos termos corretos e adequados.
Coerência semântica
A coerência semântica diz respeito ao emprego certo das palavras e da harmonização dos seus sentidos e significados. Você deve prestar atenção neste aspecto, afinal uma deve estar alinhada com a outra para obter-se um texto coerente. E isso vai impactar também na coesão do texto.
Coerência temática
Não são só as palavras e estruturas frasais que devem estar em harmonia no seu texto. As temáticas também precisam de um alinhamento, para que não provoquem confusão na leitura. Se precisar abordar muitos temas, agrupe as ideias de acordo com os seus assuntos em parágrafos.
Assim, sempre que houver uma nova quebra, o leitor sabe que finalizará um tema e iniciará outro, com o novo parágrafo.
Além disso, favoreça um encadeamento lógico dos assuntos. Priorize, em uma hierarquia, indo dos tópicos mais importante aos menos relevantes. Isso evita a sensação de “texto que dá voltas”, não sai do lugar, repete ideias.
Coerência pragmática
Vamos ao exemplo: “este texto pode ser considerado coerente, uma vez que obedece a uma sequência lógica de ideias, que se articulam entre si e no todo, ao formar uma unidade completa de sentido”.
A coerência pragmática diz respeito à progressão correta dos parágrafos de acordo com o que é anunciado. Como o trecho acima: o exemplo é anunciado, e em seguida, é possível ler o próprio exemplo.
Se você cita algo do estilo “muitas pessoas se perguntam”, mas não explicita, na sequência, o que elas perguntam, então o texto não é coerente pragmaticamente.
Coerência estilística
Se o seu texto é coloquial, deve seguir assim até o fim. Nada de palavras rebuscadas, ideias complexas ou estruturas elaboradas.
Já se você está escrevendo de uma maneira mais formal e sóbria, deve deixar gírias, interjeições, ditados e dar preferência para frases articuladas, compostas e adjetivadas. Isso é a coerência estilística: escolher um estilo para o seu texto e desenvolvê-lo dessa forma, até o final, sem desvirtuá-lo.
Coerência e coesão andam juntas
Agora que você já sabe as relações entre coerência e coesão, já deve ter entendido que uma pode ser fundamental para a outra no contexto de uma produção textual. Empregar a disposição correta dos argumentos dentro de uma estrutura coesa, conectada e relacionada entre si garante um texto melhor, de leitura mais fácil e agradável.
Respondida a pergunta sobre texto coeso? Note que aprender sobre a coesão e a coerência textuais é imprescindível para a elaboração de um texto bem estruturado e inteligível. Logo, transmitimos nossa mensagem com sentido completo ao interlocutor de forma que ele a compreenda e a comunicação, enfim, tenha êxito.
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